A contabilidade do Cerrado rumo à Rio+20

Ambientalistas e chefes de estado do mundo inteiro estarão reunidos no Brasil para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O encontro é uma oportunidade para defender o desenvolvimento sustentável no Cerrado, propor novos caminhos, discutir soluções que apontam para sua melhor utilização e conservação, e expor à toda sociedade as condições atuais do segundo maior bioma brasileiro.

Para nortear o debate é necessário fazer uma contabilidade da atividade agropastoril no Cerrado. Começamos pelas opções de agricultura e pecuária de mercado, que estão concentradas em poucas culturas. Soma-se a esse fator a dependência de fornecedores de equipamentos, insumos e tecnologias que, por virem de outras regiões do país, não agregam riqueza aos povos do bioma. Dessa forma, ao utilizar uma máquina ou insumo, por exemplo, a economia do Cerrado transfere valores para outras regiões. Assim, muitas empresas produtoras geram riqueza no bioma, mas se apropriam dessa riqueza em outras localidades.

De maneira geral funciona assim: Planta-se o que vem de fora. É introduzido o que vem de fora. E colhe-se o que é levado pra fora. A maior parte da geração dos produtos que utiliza o Cerrado como substrato de plantio é destinada à exportação e não ao bem estar das famílias que fornecem, praticamente, só a mão-de-obra. O retorno social e econômico que fica na região é muito pouco.

É preciso termos políticas diferenciadas voltadas aos interesses da sociedade enquanto moradora vinculada à este ambiente.  Então, quando vislumbramos no Cerrado todo um potencial econômico, ele é como um falso potencial econômico, pois não está associado, em grande parte, ao fortalecimento das instituições na própria região. No fim, o Cerrado é apenas um prestador de serviço, um grande fornecedor de mão-de-obra para as áreas industrializadas do Sudeste, da Mata Atlântica e do Litoral brasileiro. Ou seja, o que resta ao Cerrado é a parte mais desqualificada de todo o processo: a mão-de-obra.

Há um preconceito maléfico contra o Cerrado. Não é um preconceito de desconhecimento, e sim de orientação, destruição, do imediatismo e da falta de racionalidade do uso.  A vegetação nativa natural do bioma está praticamente extinta. Hoje temos alguns remanescentes, porém alterados: 95% do que resta foi modificado pela pecuária, pelo desmatamento seletivo e pelo desequilíbrio ambiental originário das próprias remanescentes que já foram destruídas. Então, podemos observar que o Cerrado encontra-se hoje em um desequilíbrio muito grande. É preciso compreender que é possível, a partir da grande biodiversidade do bioma, utilizá-lo como fonte de geração de riqueza e novas oportunidades.

O Cerrado possui uma biodiversidade incrível, são mais de 12.500 espécies nativas e cerca de 40% delas endêmicas, ou seja, existentes apenas neste bioma. O aproveitamento correto dessas plantas, com suas potencialidades medicinais, artesanais e gastronômicas é um dos fatores fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas que nele habitam. O que falta é a capacitação para o uso correto da vegetação nativa e assim, perceber que é possível gerar riqueza e possibilidades conservando o Cerrado.

Nesse sentido, é preciso fazer a contabilidade socioambiental e econômica, uma conta que dê qualidade de vida aos produtores e valorização dos produtos gerados no Cerrado.

Donizete Tokarski é Engenheiro Agrônomo e preside o Conselho da Agência Brasileira de Meio Ambiente e Tecnologia da Informação (Ecodata). É membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual do Meio Ambiente de Goiás (CEMAm).

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